Na Terra dos Kazaks!

Da terra dos Uzbecs, seguimos para a terra dos Kazaks. Não tinhamos muita expectativa em conhecer o pais, pois tudo o que ele tinha de melhor para ser visto, os paises vizinhos tinham de sobra. O Uzbekistao ‘e a terra das madraxas, o Kirguistao das montanhas, o Turkomenistao da ditadura, e o Kazakistao? Sabiamos apenas de um parque nacional perto da cidade da fronteira com o Uzbequistao, portanto por onde iamos chegar, e Almaty que ‘e uma cidade super moderna e o orgulho dos jovens Kazaks. Ficamos dois dias em Shimikent, num hotel dentro de um shopping, uma experiencia diferente dormir num shopping (meio esquisito, mas uma sensacao forte de seguranca por outro lado). Aproveitamos para conhecer a cidade, comer uma comida mais ocidental e entender como chegariamos no tal parque nacional.

Antes de ir ao parque, fomos conhecer o Turquistao, uma cidade sagrada para os Kazacs há duas horas dali. Na antiguidade o Turquistao compreendia toda regiao da Asia Central, onde ficavam o turcos e seus descendentes, os uzbekz, kazacs, kirguis, turkomens e tagics. Visitamos o pequeno complexo de mesquitas e mausoleu do grande Mestre Sufi Iyasaui do sec 13, que influenciou enormemente o famoso Molavi e serviu de centro de peregrinacao durante muito tempo para todos os paises muculmanos da Asia Central. Tivemos a sorte de encontrar um guia do museu que nos explicou muito bem da cultura dos Kazacs, por meio da grande influencia do Mestre Sufi na formacao do pensamento deles. Antes do Iyasaui chegar e pregar o islamismo, os kazacs eram um povo nomade e pagao. Como o mestre sabia falar a linguagem do povo e portanto procurava ensinar de forma simples, muitos Kazacs foram convertidos antes dos russos chegarem e já contavam com uma grande devocao por seculos. Mas durante o periodo da Uniao Sovietica foram proibidos de praticar, ler livros e ir a mesquita. Muitas foram destruidas e outras transformadas para outro fim.

Mausoleu!

Os Kazacs se orgulham muito de terem aprendido o islamismo atraves do mestre sufi, pois não se tornaram fundamentalistas, como alguns extremistas islamicos. Como o Sufi tem o papel correspondente ao do monge nas outras religioes, o enfoque ‘e na vida espiritual muito mais do que nos mandamentos. Mas isso não significa que os mandamentos não devam ser seguidos, e os ritos praticados e nem que os proprios Sufis não os sigam, mas apenas mostra um olhar que transcende a lei, depois do fiel ja te-la compreendido bem e pratica-la. Infelizmente depois da URSS, e talvez por terem aprendido o islamismo por esse olhar, e nao souberam talvez aproveitar a beleza da coisa, hoje os kazacs se orgulham bastante de serem muculmanos, mas acabaram suavizando demais a mensagem do mestre, deixando uma coisa tao superficial, que por mais que eles queiram voce não ve a mesma devocao que voce ve em outros paises muculmanos. Os devotos acabam pegando as partes mais interessantes dos discursos para eles e se mantem meio preguicosos quanto as praticas. Tipo “Ramadan ‘e importante, mas tem que ser feito sempre, não so durante trinta dias, ‘e uma atitude interna…”, lindo discurso, mas daí acabam por não fazer nem durante os 30 dias e nem no resto do ano. Todos bebem tambem e muito. Nao ha aquele senso de caridade tao forte, eles nao tratam “o estrangeiro como um enviado de Deus”. ‘E tipo o nosso “ catolico nao praticante”. Não sei, mas esse discurso não me convence mais. No fim das contas o Sufi acaba sendo mais um quadro na parede e o islamismo não faz parte de verdade da vida da populacao, pelo menos nao da maioria.

Bom, do Turquistao seguimos para o parque nacional, que surpreendeu bastante, era realmente belissimo, mas sabiamos que o vizinho Kirguistao era imbativel e que provavelmente aquilo seria so uma amostra. Passamos dois dias juntos com a natureza, tomando banho de rio e passeando aos arredores. La, aproveitamos para dormir pela primeira vez num yurt, aquelas barracas redondas estilo mongol, e a experiencia foi legal, como elas tem um teto alto e realmente são bem fechadas, voce se sente muito mais confortavel do que numa barraca. Do parque pegamos um trem para Almaty, e tivemos o azar de pegar mais um trem com o ar condicionado estragado, e a nossa cabine ainda ficava na saida de emergencia, entao nao podiamos nem abrir a janela. Fiquei nervosa de tanto calor que passei. Eram quase sete da noite e batia quase 40 graus la fora. E se formava um ar quente sem circulacao dentro do trem que parecia que faltaria ar.

Maravillhoso!

Picos nevados de fundo!

Almaty realmente impressionou, era bonita, arborizada, com varias pracas com chafarizes e estatuas dos comunistas para todos os lados e predios sovieticos, bem parecidos com os vizinhos que passaram pela mao do Stalin. Cheio de casas noturnas, barzinhos, etc. Aproveitamos para irmos num café daqueles para se sentir em casa e poder pedir machiatto, shakes e tudo mais. Os jovens super a vontade, como se estivessemos na Europa, shorts, regata, casais novos de maos dadas, e tudo mais. Foi a primeira vez tambem que conseguimos publicar nossas fotos no blog desde o Iran. Visitamos uma igreja ortodoxa belissima e mais uma vez eu fiquei impressionada com as igrejas ortodoxas. O simbolismo e as pinturas e retratos presentes são muito tocantes e os devotos beijam varias e varias vezes a Virgem Maria, Jesus, os apostolos e saem sem virar de costas fazendo pelo menos tres vezes o sinal da cruz. Apesar da devocao, o pais tem uma religiosidade bem fraca, os russos que vivem la são os cristaos, e os kazacs são os muculmanos, mas bem mais discretos, de vez em quando voce ve algum devoto rezando pelas ruas. Não ouvimos chamadas das mesquitas tambem, o que ‘e raro em um pais com muculmanos.

O trem!

A linda igreja!

Nas escolas e universidades se aprende tudo em russo, a lingua oficial ‘e o russo, conhecemos alguns kazaks que so falavam russo, pois quando se aprende o kazak, se ‘e aprendido, ‘e em casa. Depois de quase 10 dias deixamos o Kazaquistao com um sentimento de que valeu a pena ter conhecido, pois os kazaks eram bem bacanas, e o pais apesar de não ter grandes atracoes, merece ser visitado. Mas realmente não há nada no pais que marque voce, nem as madraxas, nem as pessoas, nem as montanhas. Almaty foi uma cidade que surpreendeu, apesar de moderna, era bem gostosa de estar, calma. Os kazaks são simpaticos, mas tem ainda aquele jeitao mais seco da Asia Central, parece que os russos deixaram sua marca no povo. Nada de sorrisos para ca e para la e vontade de te conhecer, mas depois de quebrado a primeira barreira, ficam bem mais soltos e prestativos, achamos os mais simpaticos dentre os vizinhos.