Vida de Ashram II!

Ao final dos 10 dias, o Gui chegou e aproveitou o ashram comigo durante mais quatro dias. Ele adorou! Aproveitamos para matar a saudades e passear na natureza. Quando chegou a hora de ir embora, pois haviamos comprado nossa passagem para a Jordania (nosso proximo destino ‘e fazer o Oriente Medio) nao queria ir embora de jeito nenhum.

Caminho de volta para o ashram ao final das meditacoes!

Fim de tarde!

Fim das contas, decidimos mudar a passagem e o Gui foi para as montanhas e eu voltei para o ashram, pois precisavamos fazer algumas coisas praticas em Rishikesh. A principio duvidei da minha decisao pois estava perto daqueles dias femininos e fiquei me culpando por ter dado todo o trabalho para o Gui de mudar a passagem, que nao foi uma jornada facil. Quando os dias chegaram, relaxei e pude entender porque aquele chamado era tao forte para voltar.

Tive algumas meditacoes inexplicaveis. Um dia, quando acordei numa chuva forte, fazia nao sei quantos meses que nao sentia o cheiro da chuva e nem o prazer de te-la, levantei da cama e fui meditar, num lugar bem especial no ashram de frente para o Ganges. Eram quase seis da manha. Duas horas depois quando abri os olhos, tudo silenciou, nao havia sequer uma coisa dual no meu ser, tudo era harmonia, eu, o chao, a chuva, as plantas, o ganges, o ashram, todos eram uma coisa so e nao havia separacao de nada. Nao havia eu e nao-eu, como explica Buda. E eu chorava! Chorava em ter aqueles minutos contemplando a magia e os misterios da Revelacao. Aqueles longos minutos que fiquei sentindo aquela absoluta harmonia, esta tao registrado em mim, que depois daquele dia, parei de duvidar de muita coisa e a confiar na sinfonia que rege o mundo.

Sobre uma pedra, no dia seguinte frente ao Ganges, quando estava rezando por um longo tempo, fui tomada por uma sensacao absurda de amor, de bencao e de acolhimento. Senti, pela primeira vez na vida, de forma clara, a presenca dos anjos que me acompanham. Estava rezando Santo Anjo!

Durante todo o percurso dessa viagem, queria entender o que era a falta que ainda sentia e que ja nao era mais daqui. Ja nao era mais um insight de terapia que buscava, nem compreender mais minha psique, nem entender mais porque as vezes os mesmos comportamentos surgem novamente, nao sentia mais falta de respostas para a minha psicologia e nem vontade de entender nada nesse sentido. Queria entender o que era aquela pergunta que havia no meu coracao desde pequena, quem sou eu e para onde vou, que tomava formas diferentes….

Quando a Andrea, minha amiga querida, me entregou um CD de Religios Comparadas antes mesmo de eu viajar, peguei aquele CD como se tivesse recebido um presente para estudar alguma coisa, mas nada demais. Queria mesmo era entender um pouco mais do sentido das religios, mas uma coisa bem assim sem pretensao e sem grandes interesses.

As aulas comecavam na propria ordem da Revelacao. As primeiras aulas foram de Hinduismo, depois de Budismo, depois Judaismo, Cristianismo, Islamismo, Confucionismo, Taoismo e Tradicoes Indigenas. Em cada religiao, meu professor era de uma imparcialidade admiravel. Quando ele fala do hinduismo, ele ‘e um hindu, quando fala do Budismo, ‘e um budista e assim por diante…. Bom, ouvindo essas aulas ao longo da viagem e estando ao mesmo tempo em frente a estas religioes, convivendo com pessoas de cada uma delas… na Africa, nos paises que passamos boa parte era muculmana, no sudeste asiatico obviamente budista e na India hindu.

E nessa caminhada percebi que nao precisava mais de novas abordagens espirituais como toda hora surgem na nossa frente, nem de livros de auto-ajuda, nem de “ OSegredo”, nem de psicologia, nem de retiros malucos, nem de nada…. eu queria entender o basico e ter uma visao mais inteira do mundo, nao varios pedacos, queria conseguir conectar religiao com historia com sociedades com o homem. Eu nao queria mais tirar o que me interessava de todos os conselhos de ser melhor, nem de meditar por meditar… Eu queria Deus, essa era a minha falta! E eu fui descobrir nessa viagem, olhando para esses povos, com dinheiro ou sem dinheiro, firmes no seu amor e na sua fe, que era isso que eu precisava.

Eu nunca tinha sentido a fe. Eu nunca consegui acreditar em algo que nao entendia. E nesse sentido as aulas foram perfeitas para mim, pois eu pude comecar a entender Deus, religiao e o homem atraves do estudo; atraves, primeiramente, do intelecto, que ‘e mais meu jeito de aprender.

Hoje descobri minha falta: eu nao tinha nenhuma relacao com Deus. Advinha quem ‘e o Guru que descobri que mais fala de mim? Jesus Cristo. Que grande ironia do destino. Precisei viajar o mundo para voltar as origen

Pra pensar:

Este chamado que ouvimos rumo a um tipo de vida, esta voz ou grito imperativo que se eleva de nosso intimo mais radical, ‘e a vocacao. Na vocacao ‘e proposto ao homem, nao imposto, o que ele deve fazer. E a vida adquire, por isso, o carater da realizacao de um imperativo. Est’a em nossas maos querer ou nao realiza-lo, ser fieis ou infieis ‘a nossa vocacao. Mas est’a, quer dizer, aquilo que verdadeiramente devemos fazer, nao est’a em nossas maos. Chega at’e nos inexoravelmente proposto. Eis porque toda a vida humana tem uma missao.

Ortega y Gasset

Encontro!